Já está disponível a edição 5(1) da Revista Rosa do Ventos
Confira o editorial
Apresentar o
Turismo como um fenômeno múltiplo e complexo tornou-se quase um lugar comum.
Não se imagina que hoje, na Academia, alguém ainda diga o contrário.
Entretanto, e decorrência desta primeira assertiva, é possível afirmar que a
complexidade do fenômeno se amplia e aprofunda. Pelo menos, é o que podemos ver
nesta edição de Rosa dos Ventos,
número que inaugura o quinto ano da Revista. Considerando-se o conteúdo da
presente edição, a questão que agora pauta parte do pensamento acadêmico inclui
os desdobramentos contemporâneos das tensões entre o local e global, talvez em
nova clave. Se o mundo da economia globalizada nos defronta com desafios
culturais que têm sido tratados no âmbito das teorias sobre a posmodernidade,
entre eles, com certeza, está o aprender a conviver com a diferença, que não
mais se apresenta como algo distante e desafio apenas para viajantes mais
ousados, mas como uma problemática a assoberbar os cotidianos.
No campo do
Turismo, tal tensão contemporânea está sintetizada com brilhantismo na reflexão
assinada pela professora Ada Dencker, em texto que, por esta razão, está nesta
edição, a convite. Resgatamos uma reflexão apresentada por Dencker no congresso
da Intercom, em 2010, onde ela, justo, discute o papel da Hospitalidade no
mundo da globalização, em artigo intitulado “Hospitalidade e interação no mundo
globalizado”. Ou, como diria Morin, como temos que aprende a ser, cidadãos do
Planeta.
Ivan Rêgo
Aragão e Janete Ruiz de Macedo apresentam tensões equivalentes, vistas sob o
ponto de vista do local. Ao analisar as relações entre memória e turismo na
festa do Senhor dos Passos, em São Cristovão, Sergipe, mostram que o desafio está em como manter o passado
presente, via ritual, em momentos de conturbação global. Desafio semelhante
perpassa o texto de Gabriel Sperandio Milan e Diogo Zapparoli Manenti,
intitulado “Roteiro Turístico e Principais Stakeholders: Um Estudo
Exploratório”, que, se muda o viés do olhar, partindo agora do marketing de
relacionamento, não muda a questão de
como buscar o melhor convívio possível, entre as diferenças locais, em nome de
um projeto maior.
Entretanto,
a difícil convivência entre o local e o global talvez esteja em sua realidade
mais explicita, no texto de Silvana Pirillo Ramos sobre o artesanato. Com
profundidade, ela nos descreve a situação do artesão que, pressionado,
inclusive por políticas publicas locais, se vê perdendo o protagonismo no seu
próprio trabalho, até recentemente visto como uma área de autonomia,
criatividade e de resistência à padronização da industrialização. A leitura do
texto de Ramos é, sem dúvida, impactante. As dificuldades de expressão do
local, por fim, estão em Elizabete Sayuri Kushano, Marcos Luiz Filippim e José
Manoel Gândara que, num estudo longitudinal, nos demonstram como o local perdeu
espaço – e, portanto, autonomia – se comparados o espaço de mídia que tem hoje,
em relação ao que tinha há dez atrás. Usam como estudo de caso o litoral do
Paraná, mas é provável que outros locais, se analisados, apresentem o mesmo
desempenho na mídia turística.
Estes textos
estão juntos ao acaso, por avaliados e aprovados, no processo editorial da Rosa
dos Ventos. Mas é significativo o diálogo que constroem, visto a partir da
edição finalizada. Posto, digamos, o diagnóstico do atual momento de
complexidade do Turismo nestes primeiros artigos, diferente é situação do
segundo bloco da RRV, este, sim organizado de maneira a buscar ampliar a
compreensão do quadro que desenha, em especial no pós 11 de Setembro. Num trabalho
de muito fôlego encabeçado por Maximiliano Emanuel Korstanje e Geoffrey Skoll,
os mesmos reuniram sete textos que tiveram como desafio compreender, a partir
do pensamento contemporâneo das ciências sociais, o papel das fronteiras nas
configurações políticas e culturais dos sistemas, na questão em si e nas suas
decorrências. No dizer dos organizadores:
“El borde, lejos de representar lo temido, o lo reprimido, significaba la razón
de ser de la misma sociedad. Esta idea sugiere la existencia de una dialéctica
dada entre el pliegue y los centros que confieren la identidad a ese límite”.
A edição se
encerra com a disponibilização, por Mariana Schwaab Machiavelli , de uma série
de documentos visuais que mostram, como o título indica, ”Pequenas Histórias
Soltas: Mais do Que a Terra do Champanha” A seção memória da Rosa dos Ventos
tem como objetivo reunir fontes primárias, para que as mesmas venham a embasar
nos pesquisas (Susana Gastal)
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