Três professores do Mestrado em
Turismo, da Universidade de Caxias do Sul, foram contemplados no Edital Universal 14/2013, do CNPq. Tratam-se
dos professores Márcia Cappellano dos Santos, com o projeto Hospitalidade Coletiva e Desenvolvimento
Turístico: A Experiência de Acolhimento e o Perfil de Comunidades Primariamente
Acolhedoras; Maria Luiza Cardinale Baptista, com o projeto Desterritorialização
Desejante em Turismo e Comunicação: Narrativas Especulares e de Autopoiese Inscriacional; e Susana Gastal, em parceria com o professor Antônio
Carlos Castrogiovanni (UFRGS), com o projeto Jardim Botânico de
Porto Alegre: Conduzindo Novos Olhares. Leia, a seguir, os resumos dos projetos contemplados:
HOSPITALIDADE COLETIVA E DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO: A
EXPERIÊNCIA DE ACOLHIMENTO E O PERFIL DE COMUNIDADES PRIMARIAMENTE ACOLHEDORAS:
Este projeto toma como pressuposto hospitalidade ou
acolhimento (termos aqui empregados indistintamente) como fenômeno intrínseco e
fundante do turismo, como interveniente importante no conjunto de fatores que
concorrem para o sucesso ou o fracasso de ações que visam empreendê-lo, podendo
ser examinado e compreendido no espaço e na dinâmica relacionais entre acolhedor
e acolhido, nas perspectivas singular ou coletiva. Nessa direção, as noções de
hospitalidade/acolhimento, no âmbito do presente estudo, não se circunscrevem
ao conjunto de práticas sociais formais, próximas da comunicação técnica,
profissional, ou a estruturas e serviços que asseguram o fluxo, a estada e o
atendimento de demandas previamente estabelecidas de turistas e visitantes;
elas envolvem dimensões específicas do turismo articuladas com esquemas
conceituais de natureza filosófica e psicoantropológica. Em linhas gerais, o
projeto busca traçar o perfil do Corpo coletivo acolhedor de Caxias do Sul,
município localizado no centro da região turística da Serra Gaúcha/RS, segundo
modelo teórico proposto por Santos, Perazzolo e Pereira (2012). Com inspiração
no modelo sistêmico, a perspectiva coletiva do acolhimento é concebida a partir
da metáfora do corpo, de um sistema complexo, integrado por sujeitos/grupos
humanos, suas organizações (estrutura e funcionamento), seus valores, cultura e
processos de transmissão. Epistemologicamente, o Corpo coletivo acolhedor, como
foi denominado pelas autoras, considera o princípio de que os sistemas humanos
são, por natureza, corpos acolhedores, ou não se transformariam. Nesse sentido,
o termo “acolhedor” que complementa a ideia de um corpo coletivo apenas destaca
que há diferenças no ritmo, nas características e nas formas pelas quais um
espaço se caracteriza por sua maior ou menor capacidade de acolher e ser
acolhido pelos sistemas externos que o circundam. Uma comunidade, um Corpo
coletivo acolhedor, é um sistema semiaberto. Essa condição permite que, de um
lado, elementos externos se introduzam em seu interior, fomentando a renovação,
a adaptação e a mudança; de outro, contando com dispositivos que o mantêm
suficientemente auto-organizado, possa resistir ao ingresso de elementos que
coloquem em risco os cernes identitários, como num processo de defesa do
próprio soma coletivo. Esse corpo coletivo que acolhe institui-se no espaço que
se instala na delimitação interativa com e entre três vértices dimensionais: a)
serviços (vértice no qual se estabelecem as relações de troca, a oferta e
comercialização/disponibilização de produtos); b) gestão (vértice caracterizado
pela forma como a comunidade tende a gerir os recursos de que dispõe,
envolvendo dimensões estruturais, estéticas e ambientais do sistema coletivo; e
c) cultura (vértice que abrange o cabedal de saberes e práticas inter e
intrageracionais, expressas, em especial, no comportamento social e no espaço
ocupado pela educação, pela arte e pela tradição). Considerados esses supostos
teóricos, o projeto, como referido, propõe-se identificar traços que
caracterizariam o perfil do corpo coletivo acolhedor de Caxias do Sul,
considerando as perspectivas de uma comunidade que primariamente acolhe e dos
sujeitos primariamente acolhidos na relação com os serviços disponibilizados,
com a gestão das estruturas e do funcionamento social, e com a cultura legada e
propagada entre seus membros. Para o estudo dessas dimensões, realizar-se-á o
exame de percepções/representações de turistas e visitantes, através da análise
e quantificação de elementos que se destacam de seu discurso, da natureza de
sentimentos verbalizados, de pensamentos associados e comportamentos que narram
a partir de sua experiência. Isso porque, numa leitura fenomênica da interação
entre acolhedor e acolhido, o espaço vivido pelo turista difere, sempre em
alguma medida, daquele construído e habitado pelo acolhedor, por razões que
envolvem desde o cabedal particular de saberes que o turista carrega, até o
núcleo do desejo acionador dos comportamentos que culminam na sua chegada. Por
outro lado, as representações de um corpo social também se alteram na dinâmica
mental do acolhedor. Com base nesse conjunto de referenciais teóricos, no
objeto e objetivos da investigação, a eleição metodológica do projeto combinará
as abordagens qualitativa e quantitativa de pesquisa, por meio da
identificação, no discurso do acolhido, de características das diferentes
dimensões do corpo coletivo e do registro e da quantificação das incidências de
respostas, ou de unidades ideativas a serem constituídas sob forma de
categorias, viabilizando estimativas estatísticas, probabilidades, a partir da
constituição de amostras.
DESTERRITORIALIZAÇÃO DESEJANTE EM TURISMO E
COMUNICAÇÃO: Narrativas Especulares e de Autopoiese Inscriacional: O presente projeto tem como objeto a
desterritorialização desejante em Turismo e Comunicação, considerando
narrativas especulares e de autopoiese inscriacional. Trata-se de uma proposta
de estudo transdisciplinar, que se propõe a analisar o agenciamento e a potência
do movimento desejante para o Turismo, considerando seu entrelaçamento com a
Comunicação. Desejo, espelho e autopoiese inscriacional são eixos conceituais
que correspondem a referenciais teóricos, que se cruzam, para tentar
compreender a desterritorialização subjetiva no turismo, que marca a realidade
caosmótica e complexa da contemporaneidade, do tempo das tribos. A dimensão
inscriacional associada ao conceito de autopoiese, de Humberto Maturana, deriva
de Tese de Doutoramento, apresentada na Universidade de São Paulo, quando a
autora estudou os processos de escrita de jovem adultos, como expressão da
subjetividade e do que chama de trama comunicacional, a trama de mídias.
Trata-se de um neologismo, a partir da fusão entre inscrição, criação e ações que
possibilitem a reinvenção de si mesmo, numa matriz analítica, segundo a qual é
possível compreender, agora, ‘o sujeito em movimento’, nos movimentos da vida,
das viagens turísticas, nos movimentos desejantes e comunicacionais, visando
entender o que aciona esse motor pulsional desejante por viagens, que o coloca
em movimento e garante investimentos de todos os tipos. Como foi ressaltado, em
termos teóricos, a pesquisa é transdisciplinar, envolvendo, diretamente, as
áreas de Turismo, Comunicação, Psicologia – em especial na perspectiva da
Esquizoanálise e os Estudos de Subjetividade - mas também tendo como substrato
outros territórios de saber imbricados na discussão aqui proposta. Vale
ressaltar, nesse sentido, a perspectiva da Epistemologia da Ciência, no cenário
de mutações, com autores como Edgar Morin, Boaventura Souza Santos e Michel
Maffesoli; a visão da Biologia Amorosa e do Conhecimento, de Humberto Maturana;
a perspectiva ecológica da Teia da Vida, de Fritjof Capra, e da Economia
Ecológica, de Martinez-Allier. Vale ressaltar, ainda, que a questão das
narrativas será trabalhada pelo viés do Jornalismo Literário Avançado, cujo
principal representante é Edvaldo Pereira Lima. A lógica da ‘teia teórica’ é a
do rizoma e da cartografia, coerente com um dos principais substratos teóricos
da produção deste projeto, entre a Esquizoanálise e os Estudos de
Subjetividade. Essas linhas vão se ramificando, se entrelaçando, para também
permitir vislumbrar conexões. Trabalha-se, aqui, com pressupostos da visão sistêmica
e de complexidade, sinalizando para a importância de acionar processos
autopoiéticos e mobilizadores do sujeito do Turismo e da Comunicação. Do ponto
de vista operacional, a metodologia envolverá dispositivos orientados pela
visão qualitativa e cartográfica. Além do referencial teórico, pretende-se
trabalhar com a pesquisa cartográfica e participante, buscando relatos escritos
de sujeitos do Turismo e a correlação das suas ações com a Comunicação, na sua
dimensão maquínico-midiática e interpessoal. A ideia é analisar as mobilizações
desejantes, especulares e autopoiéticas inscriacionais, registradas nos
próprios textos de narrativas de viagem dos turistas, bem como contrapô-los a
reportagens turísticas que trazem pistas sobre os valores emocionais agregados
aos lugares turísticos, aos territórios buscados por esses sujeitos. Os
resultados tendem a ajudar a compreender: o que mobiliza os sujeitos para o
Turismo? Como a Comunicação, na sua complexidade multimidiática e do processo
comunicacional, em si, pode auxiliar, nesse sentido? Que pistas há nos relatos
de viagem (nos textos verbais e visuais) e nas reportagens turísticas, que
podem potencializar o turismo? Até que ponto é possível compreender Turismo e
Comunicação, como acionamento de mobilizações desejantes, desterritorializantes
e autopoiéticas?
JARDIM BOTÂNICO DE PORTO ALEGRE: CONDUZINDO
NOVOS OLHARES: O presente projeto busca a elaboração de um projeto de intervenção no
Jardim Botânico de Porto Alegre, que venha a qualificá-lo para que cumpra, com
maior qualidade, suas funções precípuas, encaminhando um melhor relacionamento
com a comunidade do entorno, com os frequentadores e com os turistas.
Assim, o projeto deseja tornar o Jardim
Botânico de Porto Alegre, que é um local público, um espaço com maior número de
oportunidades para que ocorra a interação entre o seu patrimônio e com os
objetivos de seus visitantes. A construção de ofertas que incentivem a condução
do olhar do visitante, seja turista ou aluno de escolas públicas ou privadas,
também constituem objetivos deste projeto.
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