terça-feira, 1 de outubro de 2013

PROFESSORES DO PPGTUR-UCS CONCLUEM PÓS-DOUTORADO

Neste início de semana, os professores Rafael José dos Santos e Susana Gastal, ambos ligados ao PPGTUR-UCS, tiveram seus relatórios do Estágio Pós-Doutoral, aprovados. O Prof. Rafael realizou sua pesquisa intitulada “A regionalidade na literatura e na crítica literária, 1870-1926”, sob supervisão da Dra. Regina Zilberman, no Instituto de Letras da Universidade Federal do RS. A pesquisa da Profª. Susana, intitulada “O Porto em festa: É São João! A cidade e suas possibilidades educadoras”, foi desenvolvida na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, Campus da Foz, no Porto, Portugal, sob orientação da Dra. Isabel Baptista. A seguir, o resumo das duas pesquisa. Aos concluintes, nossos parabéns.

RESUMOS
A regionalidade na literatura e na crítica literária, 1870-1926 - A associação entre as ideias de cultura e região no Brasil tem sua história na relação dialética entre nacionalismo e regionalismo, ou entre nacionalidade e regionalidade, que emerge na Literatura e na Crítica Literária no decorrer do século XIX.  Considerando-se o fato de a primeira divisão geográfica do Brasil em regiões ‘naturais’ datar de 1913, pode-se reivindicar ao campo literário o papel de precursor da discussão do tema da regionalidade, indelevelmente relacionado à questão nacional. A tentativa de equacionar a relação entre o nacional e o regional é um traço marcante da história desse campo, inclusive como predecessor das Ciências Sociais no Brasil. O folclorismo, tributário da busca romântica pela alma popular, bem como a introdução dos princípios dos determinismos raciais e geográficos, se não foram exclusivos da Literatura e da Crítica Literária, tiveram nesse campo um lugar privilegiado e estiveram, com diferentes intensidades, vinculados à problemática da regionalidade, principalmente a partir da década de 70 do século XIX, com os primeiros ensaios de Sílvio Romero, com a publicação de O Gaúcho (1870), O Sertanejo (1875) e Nosso Cancioneiro (1874), de José de Alencar, e o surgimento de O Cabeleira, primeiro livro da Literatura do Nordeste, de Franklin Távora em 1876. A introdução do culturalismo no Brasil, por sua vez, relaciona-se diretamente à questão regional pelas mãos de Gilberto Freyre que, embora não se situasse diretamente no campo da Literatura, exerceria com esta um importante diálogo, principalmente a partir do I Congresso Regionalista do Recife em 1926. Importante ressaltar que não obstante a orientação antropológica e a formação acadêmica de Freyre, a fase inicial de seu trabalho também antecede a institucionalização universitária das Ciências Sociais no Brasil que iria se iniciar apenas nos anos 30 do século XX. Considerando o recorte temporal exposto, o corpus da pesquisa tem como fios condutores: O Folclore Brasileiro [1883] e História da Literatura Brasileira [1888] de Silvio Romero; Cartas a Cincinato de 1872, O Cabeleira de 1876, O Matuto de 1878 e Lourenço de 1881, de Franklin Távora; O Gaúcho de 1870, O Sertanejo de 1875, Sonhos D’Ouro de 1872 e Nosso cancioneiro de 1874, de José de Alencar; Os Sertões (1901) de Euclides da Cunha; o Cancioneiro Guasca de 1910, Contos Gauchescos de 1912 e Lendas do Sul de 1913 de José Simões Lopes Neto; a História da Literatura Brasileira [1916], de José Veríssimo, e o Manifesto do I Congresso Regionalista do Recife, realizado em 1926, de Gilberto Freyre. A pesquisa tem como referências disciplinares a Sociologia da Cultura e a Antropologia em suas interfaces com a Literatura e a Crítica Literária, buscando-se compreender e interpretar uma modalidade de produção intelectual que é, simultaneamente, produtora e produto de sentidos de regionalidade em um contexto de centralização política - tanto no II Reinado como na República Velha -, de crescente hegemonia do capital agro-exportador cafeeiro do Sudeste, com o declínio da economia açucareira do Nordeste e pecuarista do Sul, e de intensificação dos processos de urbanização. Esse contexto político, econômico e social não é determinante direto da trajetória do pensamento social, mas estabelece as condições nas quais ele se desenvolve e, em algumas vezes, contra as quais ele se volta. Procura-se, portanto, compreender e interpretar um conjunto de produções de literatura e crítica literária consideradas como instituidoras da problemática da regionalidade no país e que inauguram, avant la lettre,  uma geografia cultural.

O Porto em festa: É São João! A cidade e suas Possibilidades Educadoras - A pesquisa proposta propõe retomar a tese de doutoramento da autora, na qual procurou melhor compreender a sensibilidade contemporânea no que se refere a tempo e espaço e, em especial, a como os mesmos são vivenciados, quando associados ao fenômeno urbano. Considerava-se, então como agora, que entre as marcas importantes do contemporâneo está a expansão da Cidade, na sua materialidade sobre o território. Considerava-se, ainda, que Cidade estrutura-se não apenas a partir de suas materialidades, mas também em desdobramentos aos sonhos, ideais e utopias de seus utentes, que alimentam o imaginário Urbano. O imaginário urbano - e aí a tese defendida - se nutre de três matrizes, selecionadas por se considerar que as mesmas acompanham Cidade desde sua mais remota constituição. São elas: a Praça, o Monumento e o Palco. A Praça nasce do estar-juntos por razões políticas, comerciais ou lúdicas. O Palco persegue uma trajetória semelhante: a Cidade que se constitui em festa, também tem como consequência do estar-junto, o olhar e ser olhado, como gênese mais autêntica do Urbano. A relação com o tempo é mais complexa, mas estaria agregada à figura do Monumento, como materialização de história e memória.
Tal tese, no momento de sua construção, não teve a acompanhá-la a pesquisa empírica, o que agora é proposto, tendo como objetivo retomá-la sob o princípio de que o imaginário Urbano se constitui a partir das matrizes Praça, Palco e Monumento, e, concentrando atenção na primeira, estudar os folguedos associados à Festa de São João, na cidade do Porto, para ali analisar as possibilidades do festejar como espaço de aprendizagem do exercício da cidadania, tendo na hospitalidade o seu maior vetor.  O acréscimo da variável Hospitalidade considera que, passados dez anos da pesquisa inicial, houve a consolidação da globalização econômica, assim como de suas decorrências em termos culturais e comportamentais, onde e quando ganha ênfase a variável proposta. A escolha da cidade do Porto, em Portugal, como objeto de estudo se dá, justamente, por seu papel entre os players da economia globalizada, mesmo sem ser uma megacidade, o a levaria a (re)negociar as relações entre o global e o local. Com cerca de 250 mil habitantes, tombada como patrimônio da humanidade pela Unesco em 1996, a cidade associou a esse diferencial uma política de animação cultural que reforça a identidade local e a cidadania. As ações são geridas pela empresa municipal PortoLazer, cujo objetivo é o de “fomentar, apoiar e promover atividades lúdicas e recreativas, físicas e desportivas, bem como de animação cultural, de uma forma regular e contínua”[1].
Isso encaminha como foco da presente pesquisa o analisar a questão da oferta de lazer em cidades médias, enquanto política pública associada a programas de animação sociocultural, na difícil negociação do local-global. Analisando especificamente a Festa de São João, o objetivo é o de realizar um estudo de caso para avaliar como a cidade negocia essa relação e, ao mesmo tempo, alimenta o imaginário Urbano local.
A metodologia, num primeiro momento de caráter exploratório e percorrendo levantamento de dados oriundos de revisão bibliográfica e pesquisa documental, será complementada com entrevistas semiestruturadas com sujeitos envolvidos no processo de organização da Festa de São João, e observação durante a festa de 2013.


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