Neste
início de semana, os professores Rafael José dos Santos e Susana Gastal, ambos
ligados ao PPGTUR-UCS, tiveram seus relatórios do Estágio Pós-Doutoral,
aprovados. O Prof. Rafael realizou sua pesquisa intitulada “A regionalidade na
literatura e na crítica literária, 1870-1926”, sob supervisão da Dra. Regina
Zilberman, no Instituto de Letras da Universidade Federal do RS. A pesquisa da
Profª. Susana, intitulada “O Porto em festa: É São João! A cidade e suas
possibilidades educadoras”, foi desenvolvida na
Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade
Católica Portuguesa, Campus da Foz, no Porto,
Portugal, sob orientação da Dra. Isabel Baptista. A seguir, o resumo das duas
pesquisa. Aos concluintes, nossos parabéns.
RESUMOS
A regionalidade na
literatura e na crítica literária, 1870-1926 - A associação entre
as ideias de cultura e região no Brasil tem sua história na
relação dialética entre nacionalismo e regionalismo, ou entre nacionalidade e
regionalidade, que emerge na Literatura e na Crítica Literária no decorrer do
século XIX. Considerando-se o fato de a
primeira divisão geográfica do Brasil em regiões ‘naturais’ datar de 1913,
pode-se reivindicar ao campo literário o papel de precursor da discussão do
tema da regionalidade, indelevelmente relacionado à questão nacional. A
tentativa de equacionar a relação entre o nacional e o regional é um traço
marcante da história desse campo, inclusive como predecessor das Ciências Sociais
no Brasil. O folclorismo, tributário da busca romântica pela alma popular, bem como a introdução dos
princípios dos determinismos raciais e geográficos, se não foram exclusivos da
Literatura e da Crítica Literária, tiveram nesse campo um lugar privilegiado e
estiveram, com diferentes intensidades, vinculados à problemática da
regionalidade, principalmente a partir da década de 70 do século XIX, com os
primeiros ensaios de Sílvio Romero, com a publicação de O Gaúcho (1870), O Sertanejo (1875)
e Nosso Cancioneiro (1874), de José
de Alencar, e o surgimento de O Cabeleira,
primeiro livro da Literatura do Nordeste,
de Franklin Távora em 1876.
A introdução do culturalismo no Brasil, por sua vez,
relaciona-se diretamente à questão regional pelas mãos de Gilberto Freyre que,
embora não se situasse diretamente no campo da Literatura, exerceria com esta
um importante diálogo, principalmente a partir do I Congresso Regionalista do
Recife em 1926. Importante ressaltar que não obstante a orientação
antropológica e a formação acadêmica de Freyre, a fase inicial de seu trabalho
também antecede a institucionalização universitária das Ciências Sociais no
Brasil que iria se iniciar apenas nos anos 30 do século XX. Considerando o
recorte temporal exposto, o corpus da
pesquisa tem como fios condutores: O
Folclore Brasileiro [1883] e História
da Literatura Brasileira [1888] de Silvio Romero; Cartas a Cincinato de 1872, O
Cabeleira de 1876, O Matuto de
1878 e Lourenço de 1881, de Franklin
Távora; O Gaúcho de 1870, O Sertanejo de 1875, Sonhos D’Ouro de 1872 e Nosso cancioneiro de 1874, de José de
Alencar; Os Sertões (1901) de
Euclides da Cunha; o Cancioneiro Guasca de
1910, Contos Gauchescos de 1912 e Lendas do Sul de 1913 de José Simões
Lopes Neto; a História da Literatura
Brasileira [1916], de José Veríssimo, e o Manifesto do I Congresso Regionalista do Recife, realizado em 1926, de Gilberto Freyre. A pesquisa tem como referências
disciplinares a Sociologia da Cultura e a Antropologia em suas interfaces com a
Literatura e a Crítica Literária, buscando-se compreender e interpretar uma
modalidade de produção intelectual que é, simultaneamente, produtora e produto
de sentidos de regionalidade em um contexto de centralização política - tanto
no II Reinado como na República Velha -, de crescente hegemonia do capital
agro-exportador cafeeiro do Sudeste, com o declínio da economia açucareira do
Nordeste e pecuarista do Sul, e de intensificação dos processos de urbanização.
Esse contexto político, econômico e social não é determinante direto da
trajetória do pensamento social, mas estabelece as condições nas quais ele se
desenvolve e, em algumas vezes, contra as quais ele se volta. Procura-se,
portanto, compreender e interpretar um conjunto de produções de literatura e
crítica literária consideradas como instituidoras da problemática da
regionalidade no país e que inauguram, avant
la lettre, uma geografia cultural.
O Porto em festa: É São
João! A cidade e suas Possibilidades Educadoras
- A pesquisa proposta propõe retomar a tese de doutoramento da autora, na qual
procurou melhor compreender a sensibilidade contemporânea no que se refere a
tempo e espaço e, em especial, a como os mesmos são vivenciados, quando
associados ao fenômeno urbano. Considerava-se, então como agora, que entre as
marcas importantes do contemporâneo está a expansão da Cidade, na sua
materialidade sobre o território. Considerava-se, ainda, que Cidade estrutura-se
não apenas a partir de suas materialidades, mas também em desdobramentos aos
sonhos, ideais e utopias de seus utentes, que alimentam o imaginário Urbano. O
imaginário urbano - e aí a tese defendida - se nutre de três matrizes,
selecionadas por se considerar que as mesmas acompanham Cidade desde sua mais
remota constituição. São elas: a Praça, o Monumento e o Palco. A Praça nasce do
estar-juntos por razões políticas, comerciais ou lúdicas. O Palco
persegue uma trajetória semelhante: a Cidade que se constitui em festa, também
tem como consequência do estar-junto, o olhar e ser olhado, como gênese
mais autêntica do Urbano. A relação com o tempo é mais complexa, mas estaria
agregada à figura do Monumento, como materialização de história e memória.
Tal tese, no momento de sua construção, não teve a
acompanhá-la a pesquisa empírica, o que agora é proposto, tendo como objetivo retomá-la sob o princípio de que o imaginário Urbano se constitui a partir
das matrizes Praça, Palco e Monumento, e, concentrando atenção na primeira, estudar
os folguedos associados à Festa de São João, na cidade do Porto, para ali
analisar as possibilidades do festejar como espaço de aprendizagem do exercício
da cidadania, tendo na hospitalidade o seu maior vetor. O acréscimo da variável Hospitalidade considera
que, passados dez anos da pesquisa inicial, houve a consolidação da
globalização econômica, assim como de suas decorrências em termos culturais e
comportamentais, onde e quando ganha ênfase a variável proposta. A escolha da
cidade do Porto, em Portugal, como objeto de estudo se dá, justamente, por seu
papel entre os players da economia globalizada, mesmo sem ser uma megacidade, o a levaria a (re)negociar
as relações entre o global e o local. Com cerca de 250 mil habitantes, tombada
como patrimônio da humanidade pela Unesco em 1996, a cidade associou a esse
diferencial uma política de animação cultural que reforça a identidade local e
a cidadania. As ações são geridas pela empresa municipal PortoLazer, cujo objetivo é o de
“fomentar, apoiar e promover atividades lúdicas e recreativas, físicas e
desportivas, bem como de animação cultural, de uma forma regular e contínua”[1].
Isso
encaminha como foco da presente pesquisa o analisar a questão da oferta de lazer em cidades médias, enquanto
política pública associada a programas de animação sociocultural, na difícil
negociação do local-global. Analisando especificamente a Festa de São João, o
objetivo é o de realizar um estudo de caso para avaliar como a cidade negocia
essa relação e, ao mesmo tempo, alimenta o imaginário Urbano local.
A
metodologia, num primeiro momento de caráter exploratório e percorrendo
levantamento de dados oriundos de revisão bibliográfica e pesquisa documental,
será complementada com entrevistas semiestruturadas com sujeitos envolvidos no
processo de organização da Festa de São João, e observação durante a festa de
2013.
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